É a fé que move montanhas?

Durante o carnaval como todos os anos fiquei em casa com meus cachorros tentando não ver nada sobre essa estúpida festa de “momo”…e…conversando com minha mãe sobre histórias de familia ela me contou uma história bem intressante sobre a sua mãe, ou seja minha avó, que nunca tinha ouvido o que lhe causou surpresa pois dentre todas as nossas histórias de familia essa era uma das mais conhecidas…diz assim: como um costume muito antigo que talvez seja herança da nossa cultura indígena pois nasci num lugar que se originou de uma aldeia de índios que se transformou num pequeno povoado com os brancos e negros que se juntaram aos índios que ali já residiam desde sempre e sem muita repressão e violência coisa comum no trato com os indígenas e verdadeiros donos desta terra chamado Brasil, juntos construíram uma pequena cidade que foi referência de excelência ainda na época do Brasil Império…então esse costume girava entorno da gestação das mulheres grávidas que iam aos poucos juntando pequenos víveres e os alimentavam presos em cativeiro para após o nascimento do rebento cumprirem o período de “resguardo” onde a nova mamãe tinha que se resguardar de tudo e ficar em repouso absoluto, e isso era costume dos brancos europeus pois as índias logo após o nascimento do indiozinho já voltam as suas tarefas normais…mas recebem durante a gestação muitos víveres como presente e oferta ao novo ser que ali está sendo gerado e com esses víveres alimentam a mãe e assim o filho…só que no costume adulterado pelos brancos que acreditavam no repouso absoluto das parturientes os víveres se transformaram em galinhas ou melhor “capões” que eram galinhas que sofriam um procedimento cirúrgico rudimentar que as impossibilitava de gerar outras galinhas ou seja não colocavam ovos…assim ganhavam mais peso e tinham mais carne. Acontece que minha vó quando grávida de um dos dez filhos que trouxe ao mundo tinha esse hábito e assim uma semana antes do esperado nascimento ela já contabilizava todos os “capões” para cumprir o período do seu “resguardo” se deliciando com aqueles presentes de conhecidos e parentes que ela mesma vinha tratando e engordando com muito “xerém” de milho pisado no pilão de madeira no fundo do quintal…mas nessa última semana numa noite os seus adorados e gordos capões sumiram do fundo do quintal que era tão grande que hoje seria uma chácara ou coisa que o valha, então muito triste pelo sumiço dessas iguarias que iam lhe reestabelcer as forças depois do parto já por acontecer e portanto não haveria tempo hábil para que ela refizesse seu estoque com novos presentes, afinal, todos os que a conheciam já tinham lhe ofertado seu presente, as vezes os mais pobres davam um pequeno pinto assim que sabiam da gravidez recente para ser capado e engordado pela grávida durante os nove meses que viriam pela frente…e num lugar simples como aquele ninguém dispunha de tantos recursos para prover os outros de tantas galinhas assim por isso se ia juntando aos poucos durante a longa gravidez…triste e antevendo seu resguardo pobre e sem aquelas iguarias que animavam qualquer um a passar pelas dores do parto, certamente, numa época que proteína animal não era tão farta na dieta das pessoas mais simples como era a família da minha avó, apesar de seu marido, meu avô ser político na época, pois era e foi talvez um dos únicos ou últimos políticos honestos do nosso imenso Brasil…sem saber o que fazer minha avó resolveu apelar para sua espiritualidade e devota que era das “almas do purgatório”, aquelas almas penadas que ficavam no limbo a espera de quem, com suas orações, as elevassem, ascendessem aos céus da tradição cristã católica sendo ela e meu avó de famílias de judeus convertidos pelas espadas da “santa” inquisição…rezou com fervor numa noite como mandava a tradição com velas suspensas para que enxergassem o caminho dos céus e se elevassem, pois velas no chão são para os baixos espíritos assim se sabia…pediu com fervor seus capões de volta mesmo sabendo ser praticamente impossível revê-los, como tantos “capões” poderíam ter sumido e como poderíam reaparecer? Mas nas questões de “fé” isso não se discute…no outro dia porém ao comerçarem a se organizar para providenciar novos “capões” ou frangos ou galinhas para após a gravidez ter completado seu ciclo gestacional, coisa que a deixava mais desolada por fazer seu marido gastar dinheiro que poderia ser usado para outras coisas e pior ter que abdicar dos saborosos “capões” que ela mesma tinha preparado e engordado para si com tanto carinho…mas o que se há de fazer? O jeito foi comprar outros e assim eis que um vendedor de galinhas surje no fim da rua de terra onde ficava a casa grande dos meus avós…ao se aproximar notaram ser um vendedor diferente dos costumeiros que frequentavam aquela região com seus bordões engraçados e suas varas nos ombros onde as coitadas das galinhas vinham sempre quietas e dependuradas pelos pés…ao chegar na porta da casa dos meus avós e oferecer seus préstimos de vendedor ambulante eis que minha avó reconhece naquela vara todos os seus “capões” dependurados pelos pés! Podia chamá-los pelos nomes que lhe dera com carinho enquanto os tratava, cuidava e alimentava…meu avô quis saber do vendedor onde ele tinha conseguido “capões” tão gordos assim, o vendedor disse então que os havia comprado no dia anterior de um rapaz desconhecido que ao saber do negócio de vendas do velho senhor foi em sua casa…meu avô sem nada dizer sobre o roubo quis saber porque ele estava vendendo aquela mercadoria ali naquela região pois ninguém ali o conhecia…para a surpresa de todos, ele disse que realmente nunca havia negociado por aquelas ruas tão distantes de sua casa e de seus fregueses habituais mas que tinha sentido uma vontade de percorrer novas “praças” naquele dia e que isso nunca tinha acontecido antes…meu avô comprou todos os “capões” que ele trazia e os soltou de novo no fundo do quintal e revelou ao vendedor que eles tinham sido roubado dias antes dali…o senhor pediu desculpas e prometeu ter mais cuidado com a procedência de suas mercadorias dali em diante…minha vó feliz e já tranquila e com água na boca antevendo seus capões em receitas de canjas com pirão teve seu esperado filho, um dos dez que trouxe a vida e morreu mais tarde de complicações de um parto posterior…mas devota até o fim de suas almas do purgatório…então finalizada essa história de familia que me foi contada por minha mãe durante esse periodo de carnaval que como os outros não faço questão de acompanhar por achar muito tola essa comemoração da “festa da carne” que a tradição cristã católica romana inventou para manter seus ignorantes fiéis em torno de seu culto vazio em seu salvador que apesar disso merece ser servido alusóriamente em suas missas no “ritual canibal sagrado” da “comunhão”…eu comecei a questionar minha mãe o que teria acontecido ali…não foi preciso muito tempo para que também ela entendesse que a força mental desencadeada concientemente pela minha avó durante suas orações e que recebe o nome de “dogma da fé” pela tradição e doutrina católica cristã para encobrir a verdade de seus fiéis ignóbeis e incapazes de concientemente entenderem o verdadeiro poder da mente humana pela castração a que foram submetidos nesses 1700 anos de domínio teocrático…chegamos enfim na nobre questão…seria então a “fé” que move montanhas? A minha mãe também já entendeu que força poderosa pode sim mover tudo entorno a nós, inclusive montanhas…mas sua mãe, minha avó e outros tantos foliões empenhados nessa “festa da carne” por isso “carnaval” jamais saberiam e/ou saberão dessa verdade…nem depois da “quarta feira de cinzas”…nem nunca…lamentavelmente…para esses que ficou o carnaval…para outros como eu ficam as histórias de família!!!,-@ #LAVOUeu?