…uma história de amor, perdida no tempo de duas vidas!!!,-) #LOVEISALL

 

…e/ou… uma história de tempo, perdida no amor de duas vidas!!!,-)

…como era de se esperar, assim que a fábrica de jeans começou a operar no mercado nacional, o empenho dos funcionários em produzir um produto novo, bem concebido e bem acabado, acabaram elevando o nosso produto e logo que começaram as exposições em feiras de moda, como se chamavam esses eventos antes das ‘fashions  weeks’, o destaque foi inevitável, assim ainda um garoto me vi frequentando como profissional as maiores feiras de moda do Brasil com direito a assistir meus primeiros desfiles de estilistas internacionais como Jean Jacques de Castelbajac, Vivienne Westwood…entre outros, Vivienne, sem dúvidas me chocou, os volumes das ‘anquinhas’ almofadadas que aumentavam a bunda naquela coleção já indicavam todos os ‘enchimentos’ a que a moda disponibilizaria para esse fim, realmente uma profetisa. Fiquei tão impressionado que decidi que iria juntar uma grana para viajar a Londres e estudar moda formalmente, quem sabe com mais qualificação e/ou exposição do meu trabalho…assim…todos que me conheciam e conheciam meu trabalho já davam como certo o meu sucesso no mundo da moda internacional, afinal, alguns diziam, eu sabia a escalação completa de todos os estilistas que estavam por trás das mais importantes grifes da moda internacional, como se isso bastasse.

No pouco tempo que durou o “sonho” da fábrica de jeans no nordeste brasileiro, eu me envolvi com todas as atividades importantes a título de experiência, eu fazia questão, então: precisavam de alguém para fazer vitrine em alguma loja em que iam expor nosso produto, lá ia eu, quando os estoques estavam muito cheios de peças terceirizadas recusadas por algum defeito que não passaram pelo controle de qualidade, eu sugeri que se fosse feito um feirão a preços de custo e assim, quinzenalmente os portões da fábrica se abriam e uma multidão de pessoas vinham aproveitar as peças com baixo custo, durante um bom tempo tudo correu como deveria, até que a sombra do desemprego bateu a nossa porta, pois os acordos de financiamento desse tipo feitos pelo governo federal através da SUDENE, conferiam ao agraciado com esses recursos, um período de “carência” quando ainda não havia começado o pagamento das parcelas desse empréstimo obtido, não preciso dizer que muitos “empresários” decretavam a falência dos negócios obtidos por esses financiamentos antes do fim do prazo de “carência”, para assim não ter que arcar com os custos, que ficavam sempre nas “costas” do governo federal brasileiro…e…nessa fábrica em que eu trabalhei, foi assim também, no seu auge, a sobra do desemprego cobriu nos a todos e algumas semanas começaram as demissões, nem mesmo a qualidade dos meus serviços e empenho pessoal me mantiveram empregado, nem a mim nem a ninguém, em pouco tempo a fábrica foi fechada sumariamente e todos foram dispensados…um prejuízo incalculável para a vida daquelas pessoas…quanto a mim era hora de por em prática meus “sonhos”, com alguma grana que  juntei durante esse tempo, resolvi ir pra Londres tentar algum trabalho que me desse condições de fazer algum curso ligado a área de moda que eu tanto gostava, ou, como diziam meus amigos na época “abalar com as estruturas do velho mundo”. Depois dos procedimentos de praxe, passagem, passaporte, visto, ‘travellers check’, bagagem, aeroporto e despedidas, essa parte eu pulei, não havia avisado ninguém que iria viajar, simplesmente desapareci da cidade…

Já em Londres e sem um vocabulário em inglês que me permitisse me comunicar ao ponto de fazer amizades, cheguei e fiquei sozinho, arrumei um lugar pra ficar baratinho, um quarto em separado num bangalô numa área um pouco degradada do centro antigo da cidade, mas até que era charmoso eu pensava, com aquele primeiro sucesso na Inglaterra. Já os passos seguintes não saíram como eu imaginava, não conseguindo nenhum trabalho na minha área, e com o dinheiro acabando eu vi o meu sonho de fazer algum curso pra me qualificar melhor, ir embora…sem muitas alternativas a não ser voltar para onde eu nunca deveria ter saído, eu que obviamente não queria de jeito nenhum pois a vida em Londres era o máximo, a cidade os lugares, as pessoas, tudo era fantástico para mim naquela época, nem as condições precárias da minha estada, nem o pouco dinheiro que me fazia as vezes usar o mesmo saquinho de chá duas ou mais vezes, só pra dar um gostinho a água quente que aquece nos por dentro quando chega o frio…não conheci muitas pessoas pois a barreira da linguagem me deixava preso a um ou outro brasileiro que eu de vez em quando conhecia pela cidade. Não saia muito a noite pois não tinha dinheiro e quando vi que teria que voltar mesmo, resolvi aceitar os trabalhos que aparecessem para me sustentar e ficar mais um pouco por ali, assim, lavei carro, trabalhei em padaria, entreguei panfletos, fiz uma infinidade de sub serviços que pelo menos me garantiam pagar o meu aluguel e mais uns trocados pra comer um peixe com fritas de vez em quando. Até que o destino me oferece uma alternativa trabalhar como faxineiro numa firma de limpeza que prestava serviços para grandes empresas em ‘the City’ o centro financeiro de Londres, assim pude ter um pouco de conforto a mais patrocinado pelo salário melhorzinho, junto com alguns bicos de fim de semana eu até que não tinha do que reclamar, pelo menos ainda não tinha voltado para o Brazil, e isso era em si uma vitória.

Os dias passavam e logo esqueci dos meus sonhos na indústria da moda internacional e até evitava o assunto moda na minha vida, mudava até de canal se aparecesse alguma noticia sobre isso, me incomodava saber que não tinha dado certo, mas eu não me tornei uma pessoa amarga, não tinha muitos amigos, passava meus dias trabalhando em Londres, e isso me bastava, uma vez por mês tentava ir num lugar bacana pra dançar um pouco, ver gente e beber uma cerveja, sim, as vezes era mesmo só uma cerveja – ‘bock, please’- numa dessas noites ao voltar pra casa ainda cedo percorrendo aquelas vielas que sempre me lembravam que ‘jack o estripador’ tinha passado por ali, ficava absorto nos meus pensamentos sobre ele e como ele agia que o trajeto um pouco longo que eu fazia de ‘leicester square’ passava rápido  até onde eu me “escondia”. Numa dessas noites em que voltei mais cedo porque realmente estava muito cansado, numa esquina escura encontrei um garoto inglês no chão tendo uma convulsão, as únicas pessoas que haviam ali além de mim era um casal de idosos que ao verem a cena se afastaram, eu sem saber o que fazer me aproximei e como vi pelas feições e trajes do garoto que ele não era nenhum vagabundo drogado e nem imigrante como eu, eu temi por deixa lo ali sozinho abandonado a sua própria sorte, então pensei se fosse eu no lugar dele eu gostaria que alguém ficasse por perto pra me proteger, assim, então eu fiz, sentei-me a seu lado e tentei impedir que ele se machucasse na convulsão, quando passou o susto eu perguntei onde ele morava, se era aqui por perto, se ele queria que eu avisasse alguém, ele perguntou se eu morava por perto e se ele poderia passar essa noite lá…eu exitei, mas, como isso nunca tinha me acontecido e já fazia muito tempo que eu não me relacionava com ninguém além das pessoas do trabalho e um ou outro conhecido, a carência de um amigo, de uma relação de amizade que fosse, me obrigou a concordar, assim eu ajudei-o a levantar-se e pude perceber um rapaz esguio de aproximadamente 19 enquanto eu já me envergava nos meus 25 anos. Era muito branco como os ingleses tinha os olhos claros, era educado, simples, mas pude perceber que era uma pessoa acostumada as boas coisas da vida, não conversamos muito além dos assuntos relativos ao acontecido, ele me contou que tinha epilepsia, desde criança e que só precisava tomar um remédio e descansar um pouco e logo ele iria embora, quis saber dos seus pais da sua família se não era melhor avisar alguém, chamar um serviço de atendimento médico de emergência, ele categoricamente me disse não, ao chegarmos no meu quartinho de aluguel ele logo se impressionou com o lugarzinho aconchegante de um cômodo com um pequeno lavabo, sem chuveiro, de paredes verde escuro que diminuíam ainda mais o já diminuto local, composto por uma cama de casal, uma poltrona, uma mesinha duas cadeiras velhas de plástico um armário e um pequeno aquecedor embaixo da janela que graças a deus dava pra rua, era uma espécie de sótão reformado que minha senhoria, uma russa, me alugava já a um tempo e que tinha conseguido através de uma travesti brasileira que tinha se mudado pra Amsterdã em busca de melhores clientes e drogas, of course, por isso ele riu quando viu uma parede que a ex inquilina tinha coberto com fotos de estrelas, astros, travestis burlescos e Ru-Paul a drag das drags, fervi uma água na chaleira elétrica e ofereci um chá felizmente tinham ainda saquinhos sem uso…ele viu uma garrafa de ‘pernod’ e perguntou se podia tomar um pouco no chá, eu quis saber se não faria mal, ele afirmou que não, então passamos a conversar ele mais queria saber do que queria contar…e…logo ele viu que eu tinha me interessado por ele, percebi que ele se envaideceu por isso mesmo não sendo gay, como ele me dissera antes, mas também não demostrou nenhuma aversão homofóbica, assim que o álcool fez efeito as coisas ficaram mais quentes, ele quis saber um pouco mais sobre a minha vida e eu resolvi fingir que era dançarino de um clube gay, que tinha vindo passar um tempo em Londres…não poderia dizer que era um simples faxineiro, pois ele assim tão jovem deveria apreciar coisas mais “exóticas” do que faxinas…e…dito e certo, antes do amanhecer e meia garrafa de ‘pernod’ depois, estávamos na cama, percebi sua inexperiência que me deixou confortável na minha própria, pois nunca havia acontecido nada assim, ninguém nunca tinha me pedido pra ir comigo pra minha casa, as vezes até fui convidado pra algumas casas, chiques até, mas sempre era tratado como prostituto no final e até dinheiro chegaram a me oferecer ao final do “lance”…nunca me senti tão humilhado, por isso me reservei disso tudo, pois por mais que o papo fosse bom antes da cama, depois de satisfeitos os desejos carnais, era sempre: “acho melhor você ir agora, pode chegar alguém, pega esse dinheiro pro táxi…” era sempre a mesma coisa, por isso não me assustei e até me vi feliz com essa novidade, quando acordei naquele sábado de sol tímido, e vi que o garoto tinha ido embora… já atrasado pra levar os cachorros pra passear, não pensei muito se o veria de novo pois hoje tinha cinco cães pra levar pra dar uma volta no parque como ‘pet-sitter’, mas, foi a primeira vez que não me viram como empregado e sim com dono dos cachorros, a noite anterior realmente tinha sido muito boa.

Passaram-se os dias e eu sempre que passava naquele lugar que era o meu caminho de volta pra casa nos dias de festa, me lembrava dele, até que percebi que tinha saudades, pensei que estava realmente muito carente e se não arrumasse um namorado logo era capaz de me tornar como os outros que não saem das saunas gays…não, até porque detesto cheiro de eucalipto… assim zombando da minha própria sorte, ou falta dela, mudei meu itinerário de volta das boates e nunca mais passei por aquela esquina mal iluminada que marcou minha vida. Mais ou menos uns três meses depois do ocorrido, numa sexta feira em que eu estava muito animado pois a noite tinha uma festa maravilhosa que eu aguardava a dias, e como minha vida se resumia a isso, era então os dias mais felizes. E nessa felicidade fui chamado para limpar um café derramado no corredor da empresa que era uma financeira muito importante pelo que todos diziam e pelas pessoas que costumávamos ver nas salas enquanto fazíamos o nosso trabalho de limpeza, geralmente só circulávamos em horário de menor movimento e/ou se chamados a isso. Nesse dia eu até tinha pedido permissão pra sair mais cedo, pois queria comprar algo bonito pra usar a noite, mas a minha supervisora chata como sempre me negou o benefício, assim sendo fui limpar o corredor quando ouvi o barulho de pessoas vindo pelo corredor, me apressei com o serviço a tempo deles passarem, como um soldado me postei na lateral do corredor com meu carrinho de baldes e esfregão para não atrapalhar a passagem…quando, vejo no meio da comitiva aquele garoto do outro dia, todo arrumado em um terno azul escuro com uma gravata cinza, com algumas pastas na mão seguindo dois senhores um mais velho que falava alto reclamando de algo e uma secretária que anotava tudo, ao velo lembrei-me que tinha dito que fazia parte de um grupo de bailarinos que dançavam na noite gay londrina, agora ele me via ali empunhando um esfregão, rapidamente abaixei os olhos antes mesmo de ele me olhar, acreditei que ele não me reconhecera mas mesmo assim fiquei triste, acabou-se a minha animação pra sair, quis até saber com a menina da xerox, uma indiana que sabia de tudo por ali quem eram aquelas pessoas, ela cheia de coisa pra fazer me enxotou de lá. Sem ânimo terminei meu serviço, bati meu cartão de ponto e fui pra casa, pensei em sentar num lugar pra beber um pouco, desisti, estava muito desanimado mesmo, a visão daquele garoto ali na minha frente numa situação tão constrangedora como aquela, e nem o seu nome eu sabia, como é que eu posso fazer isso? Me prometi que sempre perguntarei o nome das pessoas assim que tiver oportunidade, pois transar com um cara e não saber o nome dele no outro dia é sem dúvida o maior sinal de uma vida promiscua, mesmo que tenha acontecido somente uma vez, logo eu que abomino a promiscuidade, não por preconceito, mas por princípios…já que não sairia resolvi gastar minhas libras reservadas para a noitada de uma cerveja ou duas em algo pra preparar pro jantar, uma massa, talvez um ‘penne’ ou ‘spaghetti’, ao ‘sugo’, pra beber água tônica, era só o que o dinheiro dava. Quando cheguei a minha rua, uma cena quase me fez derrubar as minhas pequenas compras, aquele garoto estava na frente da minha casa com alguma coisa nas mãos de costas olhando para a entrada, como se estivesse se decidindo… eu me aproximei e quando ele virou e me viu eu percebi que ele tinha um ramalhete de tulipas amarelas nas mãos, entre o susto e a surpresa nós dois nos cumprimentamos como dois desconhecidos, que éramos, pois nem nossos nomes nós trocamos na primeira vez que nos encontramos. Sem jeito, nos falamos, ele pediu desculpas por ter ido embora sem se despedir naquela noite, e ia começar a se justificar quando eu o interrompi e perguntei de pronto se ele não gostaria de subir e tomar um chá, que com certeza as desculpas deles seriam melhor apreciadas, já sentindo um calor subir em mim e uma vontade louca de me jogar de novo na cama com ele, que ali embaixo daquele poste em frente a casa com aquelas flores na mão se tornava tão magicamente sedutor, apesar de não ser bonito, que eu tive certeza ali que aquele era o homem da minha vida, sim, eu o encontrara e não permitiria que ele fugisse de novo, pelo menos até saber seu nome. Quando ele recusou, pois ele só queria me pedir que eu não comentasse com ninguém o que tinha acontecido, eu o tranquilizei dizendo que eu também não poderia perder o meu emprego, pois já que somos empregados da mesma firma poderíamos manter isso em segredo, ele pela primeira vez sorriu aliviado e me entregou as flores, ali na rua, em sinal de agradecimento, eu que em nenhum momento suspeitei que aquelas tulipas fossem pra mim, recusei como charme, ao que ele insistiu, eu disse que só as aceitava se ele tomasse um chá comigo, ele perguntou se tinha ‘pernod’ eu disse que não, ele  disse :”ainda bem, tive medo de fazer besteiras de novo…” – ao que eu perguntei abrindo a porta: “se ele não gostava de fazer besteiras…”- com um sorriso malicioso que já deixava claro as minhas intenções…e…começou a despertar as dele também… o chá se prolongou e quando o dia raiou nós estávamos já exaustos dormindo de “conchinha” pra espantar o frio que o aquecedor velho não espantava…na verdade eu não dormia, eu tinha medo que ele saísse sem se despedir e me deixasse ali pra sempre. Quando acordamos, no sábado, eu já havia preparado um café da manhã e por falta de espaço servi mesmo na cama, era absurda nossa interação eu não tinha ainda muita fluência no inglês, mas com ele nem falar eu precisava, não tinha cachorro pra passear aquele dia, então ficamos um longo tempo debaixo das cobertas conversando sobre nós, eu contei minhas aventuras até ali, meus sonhos que não estavam dando muito certo e ele me contou da vida dura que levava desde o 12 ano de idade, quando começara a trabalhar com o pai, um senhor muito rígido e severo, mas que ele amava muito…ele, parecia estar desabafando e nesse clima de confidencias passamos a nos conhecer de verdade, a noite de sábado chegou e continuávamos trancados no nosso casulo, jantamos a massa que havia comprado, e bebemos “schweps’, até hoje quando quero lembrar desse dia feliz eu como espagueti ao sugo e bebo água tônica…o domingo chegou e o sol resolveu vir ver o que estava acontecendo pois era raro naquela época um dia de sol, o que nos animou na nossa novíssima vida de casal apaixonado, eu não acreditava no que estava acontecendo e ele sentia se feliz em me fazer sentir assim, parecíamos dois bobos, encantados um com o outro, ninguém mais existia ali, só nós, nem eu nem ele nos sentíamos a vontade em trocar carinho em público, por isso agíamos como dois amigos e então ao disfarçar nossas atitudes nós criamos um elo que nos tornava mais intimo a cada momento em público e que fazia tudo ficar mais intenso quando estávamos sós…enfim sós…eu quis saber se as pessoas da família dele não estariam preocupadas com a sua ausência, e ele meio triste me disse que eles só sentiriam sua falta se por acaso ele não aparecesse pra trabalhar na segunda…por isso quando a segunda chegou eu de robe xadrez  acompanhei-o até a porta e depois de delicadamente arrumar-lhe a gravata, a mesma cinza de sempre, olhei se tinha alguém olhando e o beijei rapidamente, ele assim saiu para o trabalho feliz como uma criança que ganhou um doce. Concordamos que não seria adequado para nossa relação que trabalhássemos no mesmo lugar, pois ninguém poderia saber,, a família dele jamais aceitaria esse envolvimento pois ele não era gay e nunca antes havia tido algo assim com alguém, o que mais me encantou foi que, quando eu perguntei o que ele tinha achado, se existia alguma diferença, pois eu nunca havia tido nada com mulheres então a estava empates, ele dizia que se havia alguma diferença era somente por conta do aspecto físico, os pelos do corpo, a fisiologia…somente.

Nossa rotina se transformou, no início eram somente os finais de semana, depois ele começou a vir pra casa na segunda feira a noite também, depois na terça, e quando vimos estávamos juntos todos os dias, com ele pra dividir as contas tudo ficou mais fácil, teve uma época que fiquei somente com o trabalho dos cachorros, de ‘pet-sitter’, que eu adorava, as vezes tirava o colete com o nome do ‘pet shop’ que eu trabalhava passeando com os cachorros, só pra fingir que eram meus os cachorros, aqueles lindos cachorros…a vida se tornou muito agradável por essa época, éramos muito felizes, o que eu sabia dele era que o pai tinha um negócio que ele teria que assumir um dia, que tinham dinheiro, mas que todos trabalhavam muito…e…que eles jamais poderiam saber de mim, o que ele sabia de mim? Tudo. Como ele passou a ir e vir do trabalho pra casa sempre trazendo pastas com pilhas de papeis para ler e separar que eu nunca entendia direito do que se tratava, nós entramos num período de marasmo, como todo casal de verdade, as vezes eu ficava vendo tv, e ele na mesinha lendo relatórios ou estudando algum assunto relativo ao trabalho, eu procurava não atrapalhar e de vez em quando perguntava se ele precisa de algo, fazia-lhe um chá, um suco, um café, um carinho, nunca o deixava ficar a noite toda trabalhando, sempre dava um jeito de seduzi-lo e arrasta-lo pra cama, algumas vezes só pra dormirmos, mas muito raras vezes essas… nos momentos de tensão por conta do trabalho financeiro que exige muita concentração, ele se irritava um pouco comigo, a essa altura eu já não fazia mais nada além de cuidar da casa e dele, lavava e passava suas poucas roupas que ficavam em casa, cozinhava todo dia uma comidinha gostosa pra quando ele chegasse, e me postava todo arrumado pra espera-lo, eu me sentia feliz, não passava na minha cabeça que a vida seria diferente, nas cartas e depois ‘e-mails’ aos amigos brasileiros e minha família eu sempre dizia que estava vivendo os dias mais felizes da minha vida mas não entrava em detalhes.

Um dia enquanto eu tentava fazer com que ele largasse os papeis pra gente namorar um pouco ele me rejeitou e eu me enfureci e joguei pro alto todos aqueles papeizinhos brancos que estavam sobre mesa, ele vendo aquilo, limitou-se a apanhá-los sem nada dizer, eu arrependido me desculpei, ele sem me olhar disse que tudo bem, muito sério, eu ajudei-o a recolher os papéis que ele colocou numa pilha junto com outros, e deitou-se na nossa cama. Eu que achava que tinha conseguido o que queria me deitei ao seu lado e perguntei em tom de sedução se “tinha algo que eu pudesse fazer pra concertar o meu mal feito? ” – ele disse de pronto que sim e pulou da cama, eu fui atrás aí ele pegou um papel de cima da pilha, e me disse pra olhar no canto superior uma referencia numerada, me explicou que ali naquela pilha de papeis existiam cinco tipos de referencias diferentes e que se eu quisesse ajudar que eu poderia separa-las e por ordem, eu não tendo outra saída, pus me a fazer o que ele me tinha pedido, fazia muito tempo já que não me envolvia com trabalhos mais, digamos, intelectuais, pois nesse tempo atual eu só realizava trabalhos de sub emprego, balconista, atendente, faxineiro, que saudade dos tempos em que eu fazia algo importante…quando comecei a separar as folhas de papel colocando em ordem a bagunça que eu havia feito, percebi que se tratavam de empresas diferentes que lidavam com o mesmo produto comercial, e quis saber dele o porque daquilo, ele vendo meu interesse disse que era um problema que ele tinha que resolver, as cinco empresas dominavam o mercado com fatias quase iguais e que tinham outras cinco novas empresas que estavam ainda na fase de captação de recursos, que assim que entrassem em operação poderiam liquidar com as antigas donas do mercado, que não haviam se atualizado e por tanto produziam ainda de modo arcaico. Já as novas empresas desse ramo estavam mais adaptadas com custos produção e distribuição bem mais em conta. Quando eu quis saber como se resolvia isso, ele disse que a saída seria uma fusão entre as empresas mais antigas para torna-las mais forte e com condições de enfrentar a concorrência das novas empresas com seus avanços tecnológicos no setor. Mas que a legislação comercial vigente não admitia uma manobra assim… eu pensei um instante e me jogando na cama entre suas pernas abertas fui me esgueirando até sua barriga beijei seu umbigo e antes que ele se levantasse disse:” hora, por que você não diz pra empresas se fundirem numa só e criarem um fundo de investimento para as outras cinco começarem a operar no mercado e com o crescimento delas e a atualização da gigante do mercado tudo ficaria bem – e completei: isso pode?” pois já entendia que nesse ramo existem coisas que podem e coisas que não podem ser feitas, como em tudo mais, achei que tinha dito uma bobagem pela cara que ele me fez…e…quando ele finalmente sorriu e me beijou eu sabia que tinha de alguma forma dito algo correto…assim depois desse dia, quando ele chegava cheio de pastas eu sempre o ajudava a resolver seus problemas, até realizava tarefas especiais deixadas para mim por ele, agora meu patrão também, eu brincava, e como ficava só em casa o dia todo por essa época, vivendo em função do meu namorado como uma esposa fiel dos anos 50, cuidando da casa do marido e das crianças, que no caso eram dois ‘hamsters’ que ganhei do meu patrão do ‘pet shop’, quando me demiti do serviço de ‘pet-sitter’, e que morreram na primeira viagem que fizemos juntos por que eu não vedei direito a janela naquele inverno…estava muito frio e estávamos completando um ano juntos e então ele me presenteou com uma viagem para Ibiza, que detestei por se tratar de um lugar com cara de gente solteira, preferiria um lugar mais romântico e assim fomos a Marbella, como eu fiquei feliz, estranhei um pouco o luxo da viagem, primeira classe, minha primeira vez, a gente nunca esquece…o hotel cinco estrelas, os passeios, a todo instante ele queria me comprar alguma coisa, eu sempre recusava, sabia que ele tinha algum dinheiro mais não queria que ele gastasse tudo comigo e como ele não comprava nada pra ele, eu não aceitava nada além dos carinhos de casal apaixonado, era uma lua de mel de certa forma que acabou com um telefonema da firma dele dizendo que ele precisava ir ao Estados Unidos urgente, ele tinha que resolver alguma coisa em Las Vegas, eu encantado com essa mobilidade internacional, concordei em voltar pra Londres e espera-lo, estávamos tão felizes que ele me perguntou se eu não queria ir com ele, eu surpreso falei e o visto do passaporte? Eu não tinha visto americano e sabia que fosse impossível resolver isso, ele riu e disse para confiar nele, ele fez algumas ligações e deixamos o passaporte na recepção do hotel para alguém vir buscar e a tarde quando chegamos tudo já havia sido resolvido, comecei a sentir que aquele rapaz franzino, tímido, um pouco desengonçado de olhos tristes que eu amava tanto estava escondendo algo de mim… quando chegamos ao aeroporto e fomos recebidos com toda a pompa e levados a um hangar privativo onde um ‘lear-jet’ de aluguel estava esperando eu senti um frio na espinha me subir até a raiz dos cabelos e ele se divertia com minha surpresa sem falar nada, pois ali eu estava como um assistente, secretário, um subalterno e nessa viagem eu compreendi que aquele garoto estava me escondendo alguma coisa assim como fazíamos nós dois sobre nosso relacionamento. Em Las Vegas eu fui abandonado a minha própria sorte, enquanto ele passou os dois dias metido em reuniões, nos registramos em hotéis diferentes e mais uma vez só nos encontramos a noite quando ele resolveu me contar um pouco mais sobre quem ele era, me disse ser de uma família rica, tradicional com muitos negócios, que a firma em que ele trabalhava, onde fui faxineiro, era do seu pai e que eles tinham muitos outros negócios pelo mundo, primeiro eu pensei que fosse brincadeira, porque até ontem ele era um funcionário como outro qualquer, a viagem para Espanha tinha sido comprada em milhares de prestações como os pobres costumam fazer, só assim aceitei os luxos que ele queria me proporcionar, pois como boa “esposa” eu não poderia concordar com essas estripulias afinal só ele trabalhava, e pelo seu salário modesto nós não devíamos gastar o que não tínhamos. Essa era minha postura e só quando entendi quão rico ele era foi que entendi o porque ele se afeiçoara a mim. Como prova de amor ele me deu uma viagem de volta pra casa, fui visitar meus pais que a muito não via, foi uma semana das mais felizes, na volta fui do Rio de Janeiro para Paris, em primeira classe também, já estava ficando mal acostumado. Nos encontramos em Paris por uma noite, como eu havia dito uma vez:” que quanto menos tempo você passasse em Paris mais chique você seria…” como por exemplo ir a Paris somente para um jantar romântico dentro do avião sobrevoando a cidade luz…ele se divertia com esse meu jeito de ser, ele só não entendia o porque eu não aceitava nenhum presente dele, nem jóias, nem dinheiro, nem nada além do que ele já me dava na nossa vida em comum. Parecia que a gente sabia que aquele sonho ia acabar, por que tudo acaba um dia, infelizmente…de Paris nós fomos a New York, ‘please,first class again, of course’, rapidamente nos acostumamos com os luxos que o dinheiro pode oferecer…e….quando vão embora, deixam muita saudade. Nova Yorque foi lindo, não ficamos em hotel, poderia ser arriscado, então nos hospedamos num apartamento luxuosíssimo da ‘Park Avenue’, de algum conhecido dele, eu acho. Mais uma vez eu fui abandonado por ele que foi cuidar dos negócios, coisa que não foi nenhum sacrifício pra mim, perambulei pela cidade até a noite quando cheguei exausto e o encontrei já preocupado com minha ausência e sedento de vontade, como eu também… no outro dia ele me levou num passeio incrível em um daqueles ônibus tipo de cantor sertanejo, todo adaptado, um ‘motor home’. Saímos andando pela ‘Park avenue’ até um ponto de ônibus próximo e de repente aparece esse ônibus e para, ele se certifica que é o nosso ônibus e entramos, ual, tinha sala cama de casal, banheiro, comidas bebidas e tudo somente pra nós dois, fomos desse modo aos ‘hamptons’ o litoral chic dos novaiorquinos endinheirados. Voltamos a noite e fomos a uma mostra de curtas num cine clube no ‘soho’ se não me engano…e…voltamos pra Londres pra nossa vidinha, pra nosso quartinho…ao chegar me deparei com os bichinhos mortos mas diante desses quase vinte dias de ‘volta ao mundo’ eu nõa tinha do que me queixar providenciei um enterro decente pra eles no outro dia depois que ele saiu pra trabalhar.

Sabendo agora que meu namorado era muito rico, fiquei mais tranquilo e não fazia mais nenhuma confusão quando ele chegava em casa com algum vinho e/ou alguma coisa que eu achava  supérfluo, afinal o dia do aluguel estava chegando e esse mês teve aumento, da tarifa de água, luz e gás, eu dizia fazendo meu papel de esposa dedicada e cuidadosa, e só então eu entendi porque ele sempre se divertia com minhas reclamação e as contas de casa. Mas junto com essa nova realidade vieram mais responsabilidades, cada vez mais eu o ajudava no seu trabalho e muitas vezes, agora com um computador em casa, eu pesquisava e lia sobre esse ou aquele assunto sobre o qual ele estava trabalhando, assim me tornei além de amante, companheiro, namorado, amigo, funcionário ou colega de trabalho, coisa que o agradou muito e nos fez ficarmos mais íntimos e ligados um no outro, algumas vezes ele ficava em casa para trabalharmos juntos e quanto mais eu gostava disso, mais eu me aperfeiçoava meu novo trabalho passei a ter algum dinheiro que entendia que tinha direito, pelo trabalho que fazia, mesmo ele não deixando que nada me faltasse. O engraçado é que não cogitávamos mudar de endereço, ele dizia que era o lugar perfeito porque sabia que ninguém que o conhecesse jamais andaria por ali, e eu ficava tranquilo com isso, já que depois de saber do real status da conta bancária da sua família e importância, nós passamos a viver quase que exclusivamente trancados no nosso ‘ninho de amor’ que agora se assemelhava a uma lar, depois de algumas reformas que fizemos que deixaram a minha senhoria, russa, muito feliz, pois aquele encanamento deveria ser da idade media…nos últimos tempos que passamos juntos durante a semana trabalhávamos, as vezes nos dois em casa, as vezes eu sozinho em casa e ele no escritório. Nunca saiamos juntos para bares festas e baladas, os passeios no parque cessaram por receio de sermos vistos juntos e em todas as viagens que fizemos nunca nos fotografamos. Eu sabia que ele ficava inseguro quanto as fotos, e se alguém as visse…viajamos por muitos lugares, ele me levou a Índia, foi fantástico, foi a primeira vez que ele me permitiu levar um amigo conosco que não chegou a sair do aeroporto Indira Ghandi, voltando pra Londres no primeiro voo que encontrou. Uma vez passamos um ano novo na Indonésia, por conta de uma viagem de trabalho que ninguém da firma quis fazer pela proximidade da data festiva, mas que era imprescindível para um negócio importante ser fechado. Assim lá fomos nós o jovem executivo do ramo das finanças e seu companheiro invisível. Formávamos uma dupla perfeita, passei a gostar do que ele fazia, tanto que até esqueci dos meus próprios sonhos profissionais. Quando completamos dois anos juntos ele quis saber se eu não gostaria de voltar a pensar em fazer aquilo que eu tinha vindo  fazer em Londres, eu, parecia que estava tendo um presságio argumentei que não queria porque eu gostava d estar com ele e que se eu fosse fazer algum curso eu com certeza sentiria muito a falta dele nas nossas tardes de trabalho com direito a um “lanchinho” antes da hora do chá…e/ou…depois.

A vida passava feliz que até nos esquecemos que o mundo lá fora não é muito amistoso com relacionamentos como o nosso, ou pelo menos não era até bem pouco tempo nós poderíamos ser presos na Inglaterra por nos amarmos. Sentíamo-nos tão confiantes com nosso segredo, que nem percebemos que estávamos correndo perigo e uma vez quando saímos pra dançar numa noite de meu aniversário, fomos vistos juntos e o que aconteceu a seguir me dá um calafrio só de pensar, no dia seguinte assim que ele saiu, bateram a minha porta dois homens truculentos que me pegaram e colocaram numa vã parada na porta de casa, não pude gritar, ninguém estava na rua aquela hora, como sempre, me deram um soco no rosto e desmaiei, quando acordei estava só num quarto escuro frio e úmido, sem janelas e em total silencio, a única luz era a que vazava por debaixo da porta pesada. Eu estava amarrado e amordaçado, não sei quanto tempo se passou até aparecer alguém, um dos homens que eu vira na vã. Ele só observou que eu tinha acordado e se foi…mais um longo tempo…eu tinha medo, fome e frio…tinha me mijado eu sentia…pensava o tempo todo no meu namorado e temia por ele, pois sabia que isto que estava acontecendo era por causa dele…depois de uma eternidade apareceram um senhor que eu nunca havia visto com os dois caras que me pegaram em casa…um deles perguntou se eu falava inglês, ao acenar com a cabeça que sim ele pediu pra eu prestar bem atenção no que ele ia dizer:” você vai deixar o meu neto em paz de agora em diante, se não você é um homem morto…” – e completou: “ você está aqui preso até que chegue o horário do voo que vai te levar pro Brazil…você vai ser encaminhado até o aeroporto e embarcado e não tente entrar em contato com meu neto nunca mais pois se não você não terá outra chance de vida.” – eu não acreditava naquilo que estava acontecendo comigo, mas eu só conseguia ficar, apesar de tudo, aliviado por saber que eles não fariam mal ao meu amor, por que eu entendi que tínhamos sido descobertos e agora eu sabia o que ele queria dizer com; “nem sei o que minha família faria se nos descobrisse…”.

Assim acabou meu romance…fui deixado no aeroporto de ‘heatrow’ somente com meus documentos e um pacote com uma quantia razoável de dinheiro que usei pra comprar uma muda de roupa nova pois a que eu usava fedia a mijo…no horário do embarque do voo para São Paulo, lá fui eu ainda zonzo com o que tinha me acontecido, assim que entrei no avião e me sentei na minha poltrona da classe econômica eu me dei conta de que tudo tinha acabado…os meus sonhos que trouxe quando vim parar aqui nesse lugar…os sonhos que aprendi a sonhar aqui nesse lugar…e…os sonhos que eu estou deixando aqui nesse lugar…me doeu não saber o que estava acontecendo com meu namorado, com certeza ele não saberia do que eu tinha passado, fiquei dois dias preso como um animal…o pavor do que poderia ter acontecido de pior me protegeu da dor da separação, pois eu ainda estava vivo e ele também, não existia nada que eu quisesse trazer comigo da nossa casa, além dele, que era a única coisa que eu, agora, sabia que jamais poderia ter de novo, pois o senhor dissera que se eu pisasse em solo inglês outra vez eu seria eliminado…quando o avião sobrevoava o oceano é que então eu desatei a chorar até o desembarque em São Paulo.  Eu deveria voltar pra casa, mas não consegui, arrumei uma lista telefônica encontrei o telefone de uma empresa que um dos estilistas da fábrica que eu trabalhei a mais de dois anos atrás, liguei, falei com uma secretária aquém eu contei que acabara de chegar de Londres e procurava esse meu amigo que trabalhava ai…depois de um tempo ela me deu um outro numero no qual consegui falar com esse meu amigo que me recebeu dizendo:” por onde você andou? “ – eu que não tinha forças pra contar minha tragédia intima inventei algumas desculpas e mentiras e perguntei se ele poderia me arrumar um lugar pra ficar, ele muito receptivo disse que sim desde que eu o ajudasse em um trabalho que estava fazendo, eu feliz pela resposta concordei, ele me deu o endereço e eu tomei um taxi, ainda com os olhos inchados de tanto chorar, mas feliz por estar vivo. No taxi rememorei o que eu ia dizer sobre esse tempo que havia sumido, tomando o cuidado de não falar em nada que tivesse ligação com meu namoro proibido. Apaguei da mente tudo, as viagens, os passeios, o trabalho…só não consegui apagar a saudade e o amor que senti por ele.

Nesse nova fase, em são Paulo muito trabalho me tirou o sofrimento do coração, fui até quase feliz, tive até um namorado, mas que não representou muito diante da experiência fantástica que tive em Londres e que virou um segredo que só agora eu consigo relatar, pois durante os quase dez anos em que nós estivemos separados muita coisa mudou, em mim, nas pessoas, no mundo…depois de trabalhar de novo com moda em São Paulo, participando ativamente da efervescência da moda de meados dos anos noventa, coisa que sempre quis, mas que agora não tinha mais tanta importância…depois de um tempo me cansei da moda e me mudei de São Paulo, fui para Brasília e lá comecei trabalhando com jóias, como ‘designer’ em um studio de dois amigos, chegando até a participar de uma exposição de jóias que viajou a Europa, mas por divergências no trabalho pulei fora e comecei a trabalhar sem querer com festas e decorações temáticas, isso me fez encontrar de novo o sentido da vida, através das festas passei a frequentar a cena das festas trance que tinha conhecido em Goa na Índia tempos atrás, com o meu amado. Fiquei fã de carteirinha desse tipo de festa que no início dos anos 2000, era uma febre em Brasília, onde moro atualmente. Como a decoração e a música desse tipo de festa vem de um conceito hindu, com as que aconteciam em Goa, antigamente, eu sem querer me sentia a vontade nesse meio por que inconscientemente me lembrava os anos mais felizes da minha vida e que nunca mais voltariam…por isso ninguém entendia o por que de tanta animação quando eu estava na pista de dança. Nunca me referi a esse período da minha vida. Quando a internet chegou enfim ao Brazil, eu já estava muito distante daquela época e estava ficando um pouco velho pra essas estipulias, foi ai que me concentrei na minha vida e resolvi cuidar mais de mim, fiz meditação, cerâmica, carpintaria. Etc., sempre procurando uma coisa interessante pra fazer, conheci um garoto 22 anos mais novo que eu, na época e que era simplesmente a cara do meu antigo namorado inglês quando jovenzinho…sem resistências e revivendo um sonho, me entreguei a esse amor completamente, e durante uns cinco anos eu larguei tudo o que eu fazia pra ficar com ele, deixei amigos, festas, trabalhos, família…minha vida era ele, fazia isso e me sentia feliz pois era como se o tempo tivesse voltado atrás… só quando me olhava no espelho é que via as marcas do tempo no meu rosto, mas mesmo assim tive de volta toda a felicidade de viver que julgava ter deixado lá naquele quarto escuro em Londres…até que um dia já embalando-me nas redes sociais que são o marco do nosso tempo atual, eu encontrei algumas pessoas com o sobrenome do meu namorado inglês, e comecei a pesquisar até que encontrei-o, não sabia qual seria a sua reação ou se ele se lembraria de mim, afinal eu tinha até mudado de nome pois nos meus perfis da internet eu nunca uso o meu nome de batismo, somente um pseudônimo: kaantrah prema. E eis que ele me responde incrédulo com minha aparição, quis saber de mim, se estava bem, o que tinha acontecido, por que eu sumira daquele jeito sem deixar nenhum bilhete, que ele tinha ficado mal, achado que algo de ruim podia ter acontecido, ficou anos procurando por mim, disse que uma vez viu a propaganda de uma exposição de jóias vinda do Brazil num jornal ou revista e que tinha um ‘designer’ com meu nome, ele foi até a exposição e viu a minha jóia com a minha foto do lado, quis saber se os designers tinham vindo, ao saber que não ainda quis saber o preço, mas era uma exposição contemplativa, não comercial, conseguiu o numero do telefone do studio em que eu trabalhei, mas não me encontrou mais lá e como ninguém sabia do meu paradeiro, coisa comum pra quem me conhece, ele continuou a sua vida. Obviamente ele não sabia do que o seu avô fez comigo, como já fazia muito tempo desde então, eu resolvi não falar nada pra ele. Me contou que tinha casado com uma brasileira, mulher, graças a deus, detestaria saber que ele tinha me trocado por um outro homem…ainda sem filhos, a correria do trabalho mal deixava eles se verem, se ela ainda fosse como eu, que não desgrudasse um instante dele, eu pensei, já teria um time de futebol… passamos horas no bate papo, felizes com nosso encontro, falei que tinha um namorado também e quando ele viu a foto do garoto ele se viu também e disse: ”parece que você nunca me esqueceu mesmo…ele parece comigo quando jovem…”.Fiquei sem jeito mas confessei que era verdade, que nunca, nunca o tinha esquecido e que durante todos esses anos eu nunca tinha passado um dia sem lembrar dele…continuamos a nos falar pela internet, cientes mais do que nunca da impossibilidade do nosso amor, naquela época, agora e/ou até no futuro, pois agora ele é responsável pelos negócios da família e que vive de um lugar pro outro, quase nunca a mulher o acompanha, sente muita falta das nossas viagens, de quando trabalhávamos juntos, quis saber se eu ainda era inteligente como quando nos tínhamos conhecido…e…eu quis saber sobre seu problema de saúde, que ele me disse que a última convulsão que ele teve foi quando nos conhecemos, que eu o tinha curado…logo em seguida eu terminei o relacionamento com o atual namorado, já não precisava de lembranças, agora eu o tinha encontrado, mesmo sabendo que não poderíamos nunca mais nos encontrar pelas consequências danosas do que poderia acontecer se alguém soubesse, mesmo sabendo disso nós dois encontramos uma satisfação imensa em estarmos juntos virtualmente, temos perfis com pseudônimos onde nos colocamos como casal, e até temos uma vida virtual bastante agitada, ainda queremos nos encontrar um dia pessoalmente mas não falamos em datas, em tempos, em ocasiões, temos certeza plena e absoluta que nosso amor não foi por acaso, que o que nos une é muito maior que a vida ou a morte, e que com um amor assim desse tamanho nem ninguém nem a distância pode acabar…

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